Talvez nem tudo seja caos.
Que jornada, senhoras e senhores, que jornada. Particularmente, Maniac me tocou de diversas formas. Eu comecei assistindo e encarando como uma comédia obscura, talvez com algum plot twist no meio, lendo entre todas as linhas. Mas da metade para o final, eu só entrei na trama dos personagens e me vi torcendo para eles ficarem juntos.
Toda a ambientação surrealista da série se torna apenas mero background, quando chegamos no ponto de virada. Não importa muito como seja sua realidade, quando entramos dentro da mente, a única coisa que pode realmente nos guiar são nossos sentimentos.
Nós, como seres humanos, somos complexos. Cada um de nós carrega consigo sua própria cruz, o peso de seu passado. Obviamente, vivemos entre mágoas, traumas, arrependimentos e angústia. E precisar de alguém, não necessariamente significa que você não pode ser completo sozinho.
E às vezes, isso é algo difícil de absorver. Estar vulnerável não é fácil, abrir todas as suas janelas e deixar te escanearem de dentro para fora. Annie nos mostrou o quão doloroso isso realmente é. Mas ao mesmo tempo, o quão necessário.
Não vivemos no passado, não podemos nos ater a acontecimentos passados e esquecer de abraçar o que vem pela frente. De coração, não existe isso de “glórias passadas”, isso é mero preciosismo. Por mais confortável que seja ancorar-se no tempo, precisamos estar abertos para avançar. E mais que isso, precisamos nos abrir para nós mesmos. E assim como Owen, enxergar nossa própria pessoa, entender que somos indivíduos e nem sempre podemos viver pelos outros.
E no meio de todos esses tópicos tão filosóficos, delicados e humanos, ainda lidamos diretamente com transtornos mentais. Eu fiquei bastante tocada com o arco do Owen, com todas as suas inseguranças e a forma como sua realidade era constantemente contorcida por ele não conseguir distinguir o real do paranoico.
Ele deixou sua doença o definir por tempo demais. Mas na realidade, uma condição jamais irá ditar quem você é de verdade. Você não é sua condição. Perder-se de si próprio dentro de si próprio é tão fácil. E às vezes, você realmente se deixa abater e “leva com a barriga”.
E talvez, por isso, esse final tenha sido tão simples, mas tão marcante para mim. Annie conseguiu aprender com a jornada, ela viu que pode ser muito mais do que vinha sendo. E ela também enxerga Owen por quem ele é, e decide mostrá-lo o mesmo.
Nem sempre vamos saber quão caminho seguir, mas precisamos estar constantemente tentando. Deixar o medo nos parar é uma das maiores mancadas que podemos dar. Recentemente, eu fiz uma tatuagem que visualmente é assim: “fear |———| love”; em tradução simples, é para me lembrar de jamais deixar o medo me impedir de amar. E de forma bem rendondinha, Maniac me mostra o mesmo.
Claro, há tão mais nessa série do que apenas amor. Mas no fim das contas, ela é sobre amor, sobre perda, sobre desencontros (e reencontros), consigo mesmo, com os outros. Mas principalmente, ela é sobre jamais desistir de você, não importa o quão “longe” você possa estar. Sempre há de existir um caminho de volta, e se não houver, nós vamos criar… Afinal, nem tudo é caos.